Início Geral Escola Família Agrícola: aliada no desenvolvimento da zona rural

Escola Família Agrícola: aliada no desenvolvimento da zona rural

Everson Boeck – [email protected]

Nos últimos anos se fala muito em diversificação, em promover desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.  A Escola Família Agrícola de Santa Cruz (Efasc) nasceu da compreensão de que a região de Santa Cruz do Sul, por predominar a pequena propriedade na sua estrutura fundiária, necessitava ter uma referência de ensino técnico voltado para a agricultura familiar. A Efasc é a primeira Escola de Ensino Médio Técnico, no modelo EFA’s do Rio Grande do Sul e do sul do Brasil e faz parte de um movimento internacional denominado CEFFA’s.
Em um artigo sobre a Efasc, o professor João Paulo Reis Costa destaca que o elemento estrutural que faz com que ela se diferencie de todas as tentativas de educação no meio rural, juntando a realidade da prática agrícola com a teoria científica, testada em vários países europeus desde a década de 30 do século passado, é a Pedagogia da Alternância, que parte do pressuposto que o jovem deve permanecer um período em casa e a outro na EFA, alternando momentos de sua formação, que se complementam, proporcionando uma formação integral: família – comunidade – escola. “Esse tipo de estudo proporciona momentos de interdisciplinaridade, de intensa discussão e construção do conhecimento através do que veio dos estudantes e suas respectivas realidades, tornando esse momento significativo no processo de ensino-aprendizado, tanto dos estudantes como dos professores”, argumenta Costa.
Outro ponto que o professor ressalta trata-se da priorização do conhecimento prévio da família, onde o estudante está inserido originariamente, fazendo este jovem (re)conhecer a sua propriedade, bem como a comunidade da qual faz parte sua família, valorizando primeiramente o saber tradicional das populações onde o estudante está inserido. “Assim, essa busca na propriedade/comunidade servirá de ponto de partida para a reflexão ampliada que esse fará na EFA. Imaginemos a riqueza de uma turma de várias localidades, no nosso caso, 10 municípios, com localidades muito diversas dentro do próprio município, trocando experiências e práticas, somando-se a isso o conhecimento técnico e científico proporcionado pelos profissionais de diversas áreas que a escola dispõe”, frisa.

Estrutura atenderá 104 estudantes em 2012

A Efasc está situada nas dependências do Seminário São João Batista, na Linha Santa Cruz, locado pela Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas (Agefa) junto à Diocese de Santa Cruz do Sul. Possui dormitórios, refeitório, salas de aula, área de lazer e de experimentos técnicos.
O espaço é ocupado pelos estudantes durante a tarde e a noite, pois os mesmos pernoitam na instituição de segunda a quinta-feira à noite (sempre acompanhados de dois professores plantonistas no internato), saindo para suas casas sexta-feira à tarde.
Pelas manhãs, exceto segunda-feira, os estudantes, através de um convênio entre Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e Efasc, têm aulas na universidade, no Bloco 51, onde se situa as engenharias agrícola, florestal e mecânica.
A Efasc conta atualmente com o trabalho de 15 profissionais, divididos entre professores, técnicos e funcionários, que na EFA são denominados professores / monitores, coordenados por uma gestão compartilhada, assim organizada: Direção (Adair Pozzebon – Tecnólogo em Horticultura), Vice-Direção e Coordenação de Vivência e Relações Comunitárias (Antonio Carlos Gomes – Assistente Social), Coordenação de Internato (Anderson Petry – Licenciado em Química e agricultor), Coordenação Pedagógica (Cristina Vergutz – Pedagoga) e Coordenação da Área Agrícola (Jair Staub – Agrônomo).
Em 2012, a Efasc atenderá 104 estudantes, divididos em 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, com habilitação em Técnico Agrícola. Esses estudantes vêm de 11 municípios da região do Vale do Rio Pardo (Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Vale do Sol, Herveiras, Sinimbu, Boqueirão do Leão, Venâncio Aires, Passo do Sobrado, General Câmara, Gramado Xavier e Rio Pardo).

Sustentabilidade e permanência no campo

De acordo com o professor João Paulo Reis Costa, a Efasc entende que diante da necessidade da permanência do jovem e sua família no campo, a instituição vem proporcionar para o cenário regional uma possibilidade ampla e concreta de diversificar a propriedade e, principalmente, dar a oportunidade de escolha ao jovem do campo de permanecer na propriedade, com qualidade de vida, produzindo, vivenciando e trocando experiências com seu meio, assessorando comunidades com seu conhecimento técnico, ampliando uma rede de conhecimento calcado, sobretudo numa prática agrícola que aproveite todas as potencialidades da propriedade, da comunidade e região onde este jovem está.
Para Costa, é de vital importância essa formação diferenciada para este jovem técnico, a qual é baseada nos fundamentos da agroecologia. “Conceitos como estes são trabalhados com os estudantes desde o primeiro dia de aula, pois entendemos que só a partir dessa prática podemos pensar num desenvolvimento sustentável de fato para a prática agrícola familiar. Trabalhamos sob o prisma dos compostos orgânicos, das esterqueiras, dos biofertilizantes, dos ‘adubos caseiros’, onde o agricultor (re)utiliza os recursos que dispõe na propriedade, valorizando, sobretudo a vida, na sua integralidade, num ciclo em que a terra não seja tratada como uma mercadoria, como quer a moderna agricultura”, pontua.

Primeira turma de formandos

Depois de sua fundação, em 1° de março de 2009, na noite de 17 de dezembro a Efasc formou a sua primeira turma de Ensino Médio técnico em Agricultura. Foram 41 jovens residentes no meio rural de 9 municípios do Vale do Rio Pardo (Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Vale do Sol, Rio Pardo, Passo do Sobrado, General Câmara, Venâncio Aires, Herveiras e Sinimbu).
Todos os 41 estudantes foram aprovados após terem cursado a educação básica nível de ensino médio e o curso técnico em agricultura com duração de três anos no sistema de alternância. Para a obtenção do diploma de técnico em agricultura os estudantes ainda deverão realizar o estágio curricular de 400 horas a partir de 2012, em um prazo máximo de 2 anos.
Para a conclusão do ensino médio, cada estudante precisou defender seu Projeto Profissional do Jovem (PPJ), orientado por professores da escola, com ativa participação da família e defendido em banca. Desta forma esses estudantes contribuem para uma nova perspectiva nas suas propriedades e comunidades, pois o desenvolvimento do meio é um dos pilares que sustentam essa metodologia de ensino, a Pedagogia da Alternância.

Divulgação/RJ

Alunos aprendem com a prática e troca de conhecimentos