O resultado, vergonhoso, por assim dizer, do concurso para o magistério do “glorioso” Estado do Rio Grande do Sul, demonstra não apenas o abismo que existe em nossa educação, pelo menos o abismo entre o discurso e a prática docente. Demonstra também muito outros problemas que acompanham a sociedade brasileira, são heranças do tempo colonial, são reflexos do “jeitinho” brasileiro, para tudo, para toda hora. É retrato também do modo autoritário de nossa sociedade e da “República Velha” que norteou nossa “República” nos primeiros passos, que jamais acabou, pelo menos no nível de relações sociais.
Se na República Velha tínhamos os coronéis controlando a política regional, e a política dos governadores conduzindo a vida nacional, hoje substituímos eles por outras espécies de coronéis, que controlam a vida social, e controlam também aspectos fundamentais da vida brasileira. Hoje o “Q.I” (Quem Indica”) vale muito mais do que o talento, que a iniciativa, que a inteligência propriamente dita, enraizamos de tal maneira este modo de vida que os reflexos disto batem em nossa porta a todo instante, como no caso da educação, mas aprendemos a realizar um discurso de reflexão baseado apenas na “conta”, na porcentagem de fracasso apenas dos estudantes de escolas públicas. Bom agora temos o índice do fracasso dos professores, e o que faremos? Bom, entra o “jeitinho brasileiro” que já garantiu um novo concurso para satisfazer aqueles que não passaram no concurso atual, sob alegação dos mesmos de que a prova era extremamente difícil e tratava de questões que não condizem com a formação dos professores nas universidades do “glorioso” Estado do Rio Grande do Sul, mais uma vez passamos os problemas para outro nível, sempre são os “outros” os culpados por nossa incapacidade.
Mas uma pergunta se faz presente e necessária, quantos destes “profissionais” ou aspirantes a tal dedicaram-se de forma necessária ao sonho de ser professor? Quantos leram livros, ao invés de trechos xerocados? Quantos utilizaram a “autonomia”, que deve acompanhar um professor por toda a vida e foram atrás para preencher estas lacunas na formação? É mais fácil culpar os “outros”, sempre eles…esses “outros”. Como concluinte de curso de licenciatura, e pai, fico preocupado com os profissionais e os índices apresentados pelo concurso do magistério do “glorioso” Estado do Rio Grande do Sul, fico também pensando até onde iremos sustentar este discurso de “diferenciados” em relação ao Brasil, a não ser que estejamos dizendo que somos diferenciados pelo fato de ainda vivermos em plena República Velha, “indicando” profissionais ao invés de dar ênfase ao talento e a autonomia, ainda mais quando o assunto é educação.
*Estudante/Licenciatura Plena em História – [email protected]