Na semana após a Páscoa foi-me oferecida a oportunidade de ministrar algumas aulas na Pós-Graduação de Educação Religiosa da Faculdade União das Américas – Uniamérica – em Foz do Iguaçu, PR. A disciplina trabalhada foi Diálogo Inter-religioso. Os alunos são, em sua maior parte, oriundos da Faculdade de História. Todos foram educados na fé cristã. Muitos seguem na Igreja de seus pais e alguns migraram para alguma outra tradição religiosa. O grupo é formado por membros da Assembléia de Deus, Igreja Presbiteriana, Igreja Batista, Igreja Católica Romana, Espiritismo e cristãos sem identidade eclesial específica.
Pelo fato de os muçulmanos possuírem uma Mesquita e os budistas um Templo em Foz do Iguaçu, as práticas destes grupos religiosos não são estranhas aos universitários locais. Também não lhes são estranhas as práticas da Igreja Universal do Reino de Deus e da Igreja Internacional da Graça de Deus. Um dos participantes do curso teve contato direto com a umbanda através do seu avô e da sua mãe que frequentavam os terreiros.
Uma das coisas destacadas desde o início das aulas foi a necessidade de “escutar o outro” para que, a partir daí, se possa entabular o diálogo entre os “diferentes”. E, para escutar, é preciso se “desarmar” e se desvencilhar de todos os preconceitos existentes. É preciso se colocar no lugar do outro, com respeito, escutando-o desde sua origem familiar, sua formação escolar e seu histórico de vida, valorizando tudo aquilo que ele considera importante.
Nas primeiras intervenções do grupo ficou evidente que diálogo não combina com proselitismo, uma vez que no diálogo se buscam acordos e no proselitismo se objetiva a conquista. Também ficou evidente que só podem realizar diálogo inter-religioso as pessoas que conhecem os rudimentos da sua religião e estão mais ou menos convencidas da sua fé. Sem um mínimo de conhecimento, o diálogo não vai fluir, tendendo a descambar para o monólogo ou permanecer no campo da superficialidade. E sem convicção o diálogo perde sua razão de ser, porque não há acordo a se construir.
Numa sociedade religiosamente plural como a nossa, é de suma importância aprendermos a dialogar uns com os outros. Isso se torna ainda mais importante se atentarmos para a afirmação de Hans Küng de que “não haverá paz no mundo sem paz entre as religiões; e não haverá paz entre as grandes religiões da humanidade sem paz entre as Igrejas cristãs”. Daí se deduzir que um dos maiores obstáculos à paz no mundo ser a falta da capacidade de diálogo entre as Igrejas Cristãs. A mesma falta de diálogo é também o maior empecilho para que a mensagem de Jesus Cristo seja difundida “até os confins do mundo” e seja colocada em prática na sociedade atual.
As aulas na Uniamérica fizeram-me crescer na consciência da necessidade do diálogo no mundo de hoje. Precisamos aprofundar o diálogo inter-religioso sem esquecer do diálogo em nossas próprias comunidades locais. Exercitar-nos no diálogo na política, na economia, nas relações familiares e de trabalho. Aprofundar o diálogo entre ciência e religião, Igreja e sociedade, liberais e conservadores, desenvolvimentistas e preservacionistas. Fazer tudo num profundo respeito, escutando as razões que movem pessoas e grupos.
O fundamento de uma sociedade harmoniosa e feliz para todos está aí: Respeitar, Escutar, Valorizar e Dialogar.
*Padre em Santa Cruz do Sul – [email protected]