Grasiel Grasel
[email protected]
Por vezes a realidade de quem vive em regiões interioranas, afastadas de zonas urbanas, pode ser bastante restritiva em relação a oportunidades. A falta de infraestrutura e as condições precárias de vias de acesso dificulta a abertura de novos empreendimentos, que podem enfrentar problemas para escoar produtos. No entanto, os moradores de Coloninha, distrito de Arroio do Tigre, puderam ver essa situação mudar na última sexta-feira, dia 17, quando o programa Alcançando a Redução do Trabalho Infantil pelo Suporte à Educação (Arise) inaugurou na localidade sua primeira agroindústria de doces.
O programa é uma iniciativa conjunta da Organização Internacional do Trabalho (OIT), JTI e Winrock International. Seu objetivo é ajudar a prevenir e eliminar o trabalho infantil em comunidades produtoras de tabaco em que a JTI desenvolve suas atividades. Iniciado em 2011, o programa já atua em países como o Brasil, Malawi e Zâmbia.
Em Coloninha, o projeto desenvolvido teve o objetivo principal de empoderar economicamente mulheres da região oferecendo a elas uma opção de renda extra para que possam garantir uma educação de melhor qualidade aos filhos, evitando que as crianças precisem ajudar os pais na lavoura. Arroio do Tigre foi identificada no Censo de 2010 como uma das cidades com alta taxa de trabalho infantil no Rio Grande do Sul, quando 47,7% das crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos possuíam ocupação.
Resgatando a confiança
A agroindústria era um projeto da comunidade de Coloninha há muitos anos e sua estrutura já havia sido construída, no entanto, por falta de recursos ela não evoluiu. A supervisora de Projetos Sociais da JTI, Marinês Kittel, explica que, quando conheceu a iniciativa em 2018, percebeu que as famílias estavam desacreditadas, então seria necessário realizar um trabalho de resgate de suas confianças.
Uma equipe da JTI realizou por três dias o trabalho de passar nas casas de mulheres que haviam realizado um curso de panificação oferecido pelo Arise às mães de alunos da escola local. “Quando a gente fazia as primeiras reuniões elas não apareciam, então a ideia foi ir ao encontro delas”, explica Marinês. Depois de conseguir convencê-las que o projeto finalmente sairia do papel e que ele seria importante para suas famílias e para a região, a primeira reunião de sucesso que viria a definir como funcionaria a agroindústria “Delícias da Colônia” foi realizada.
Marinês conta que a JTI possui essa responsabilidade social porque está inserida nas comunidades, que garantem a manutenção do negócio da empresa e, portanto, merecem novas oportunidades. “Dá mais trabalho desenvolver esses projetos em comunidades mais distantes? Dá, mas é muito mais gostoso, muito mais gratificante. A gente pode celebrar hoje essa inauguração e ver que valeu a pena toda a nossa caminhada”, afirma.
Saiu do papel
Com a ajuda da comunidade, a prefeitura de Arroio do Tigre, a Emater e o patrocínio da JTI, todo o maquinário e estruturas que faltavam foram adquiridas. Para administrar o empreendimento, uma associação foi criada entre 13 mães, presidida por Leila Mara da Silva Brum. A partir de agora, segundo ela, o objetivo é buscar empresas parceiras para venderem seu produto. “Queremos sair nos mercados levando uma amostra do nosso produto para que eles possam provar, para a gente ter um espacinho em cada mercado para expor os nossos produtos”, conta.
Margarete Oliveira dos Santos é uma das associadas e, segundo ela, a criação da agroindústria proporcionou uma série de novas experiências e oportunidades, como os diversos cursos e palestras que pode assistir em Caxias do Sul e na comunidade. “Foi muito importante porque isso serve como uma renda extra para a gente, porque aqui é interior, não tem muitas opções, não tem nem padaria”, explica, falando também na possibilidade de investir mais na educação dos filhos.
Para garantir a sustentabilidade do negócio, a associação vai trabalhar com uma consultoria de estudantes da empresa júnior sem fins lucrativos Renove Jr., do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSM, fazendo pesquisas socioeconômicas na região durante um ano. Também serão feitos trabalhos de motivação e gestão financeira com a Emater, bem como assessoria na busca por meios de comercialização.
A agroindústria Delícias da Colônia produz bolachas, cucas, pães e outros produtos derivados de farinhas. A ideia é poder comercializar o que é produzido para os moradores da região, mas a associação busca expandir seu negócio escoando produtos para mercados de toda a região. Interessados em firmarem parcerias podem entrar em contato com a Leila pelo WhatsApp (51) 9 9897-4079.