LUANA CIECELSKI
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Embora seja uma doença de diagnóstico simples e de tratamento fácil, a sífilis é uma doença que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge 12 milhões de pessoas no mundo todo e sua erradicação ainda desafia a saúde pública. Transmitida principalmente através de relações sexuais que ocorrem sem preservativos, nos últimos anos o número de casos vêm crescendo. No Rio Grande do Sul, por exemplo, de 2006 para cá, o aumento chegou a 65%. Em Santa Cruz do Sul a situação não é muito diferente e pensando nisso o Comitê Municipal de Ações de Redução da Mortalidade Infantil e Fetal realizou na última quarta-feira, 2 de novembro, uma atividade para discutir os dados cada vez mais alarmantes.
Mais do que debater a sífilis, o encontro que aconteceu na Câmara de Vereadores e que teve como público alvo profissionais de saúde e estudantes da região, buscou discutir especificamente os casos de sífilis em gestantes e em recém nascidos, ou seja, a sífilis congênita. Se em 2010 foram identificadas sete mulheres grávidas contaminadas e cinco bebês, em 2015, até o mês de novembro, já haviam sido 26 mulheres e 14 recém-nascidos. Esses dados vêm preocupando a rede de saúde, principalmente porque a doença é uma das principais causas de partos prematuros, má formações fetais e mortes em recém-nascidos.
Durante o encontro, uma das explanações foi a da médica infectologista do Centro Municipal de Atendimento à Sorologia (Cemas), Cristiane Hernandes, e da neonatologista pediatra do Hospital Santa Cruz, Fabiane de Souza. Elas trouxeram alguns dados e informações sobre os casos identificados no município e procuraram passar orientações aos profissionais presentes sobre as melhores formas de atender essas pacientes.
De acordo com Fabiane, em 2015 Santa Cruz do sul já registrou dois óbitos de bebês causados pela sífilis. Além disso, ela explicou que há dois fatos preocupantes quando se fala da sífilis congênita: o primeiro é a qualidade de alguns pré-natais. “Muitas mães só descobrem que estão com sífilis na hora do parto. Isso significa que o pré-natal não foi bem feito e que um tratamento que poderia ter sido realizado durante a gestação, não aconteceu”, comentou. O segundo é a falta de remédio para o tratamento. “A penicilina, um antibiótico simples, o primeiro antibiótico utilizado pela medicina, está com problemas de distribuição em todo o país por causa de dificuldades com a importação do sal que é sua matéria-prima. Nós já não temos a penicilina cristalina, a que é dada ao bebê, nos hospitais e postos e já se prevê uma falta da penicilina benzatina, a famosa benzetacil, que é dada para o tratamento das mães”, apontou.
Quem também fez uma apresentação durante a tarde de quarta-feira, foram as acadêmicas Débora Bassani e Jéssica Chaves, do 8º semestre do curso de Medicina da Unisc. Elas apresentaram uma pesquisa intitulada “Semana do Bebê: uma visão ampliada da Sífilis Congênita”, e dessa forma também contribuíram para aumentar os conhecimentos de outros estudantes e dos trabalhadores da saúde sobre a sífilis.
A pesquisa aconteceu a partir de uma análise de prontuários de pacientes que internaram no período de 2009 a dezembro de 2014 no Hospital Santa Cruz. A pesquisa avaliou a prevalência dos casos e seu perfil sociodemográfico. Durante o debate, um dos grandes entraves, apontados para conter a disseminação, é a resistência do parceiro em se submeter ao tratamento. Também contribuem para o aumento dos casos a não realização correta do pré-natal e seu início tardio.
A atividade insere-se na programação da Semana do Bebê e da Semana de Luta contra a Aids e é uma realização do Comitê Municipal de Ações de Redução da Mortalidade Infantil e Fetal. Durante toda a atividade o papel das agentes comunitárias de saúde foi destacado pelas palestrantes. A atuação delas é considerada estratégica para fortalecer o vínculo entre a rede de atenção básica e especializada e os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Um dos maiores problemas dessa doença é que mesmo sem tratamento, essas feridas podem desaparecer sem deixar cicatriz, o que não significa que a pessoa esteja curada. Ao contrário, a doença se desenvolve em silêncio. Ao alcançarcerto estágio, também surgem, em geral, manchas em várias partes do corpo (inclusive mãos e pés) e queda dos cabelos. Porém esses sintomas também podem desaparecer, e a doença ficar anos sem se manifestar, até que surgem complicações graves como cegueira, paralisia, doença cerebral e problemas cardíacos, podendo, inclusive, levar à morte.
Uma das formas de diagnosticar a doença é através do teste rápido – ele tira uma gota de sangue do dedo – que é disponibilizado em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Estratégias de Saúde da Família (ESFs) e que tem um resultado dentro de 30 minutos. Também podem ser feitos exames laboratoriais. Já o tratamento é a base de penicilina, porém, o ideal mesmo é que se evite a doença utilizando a camisinha durante todas as relações sexuais.