VAGNER CERENTINI
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Todos nós já conhecemos alguém que teve câncer ou até mesmo, morreu devido à doença. Algum familiar, amigo, vizinho, enfim, o câncer mata cerca de 7,6 milhões de pessoas por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A doença é a maior causa de mortes no mundo, respondendo por 13% dos óbitos. Em comparação, por exemplo, a Aids – uma doença que não tem cura – tem um número de vítimas bem menor, matando 2,8 milhões de pessoas por ano, um pouco disso, deve-se ao fato da Aids poder ser controlada com o uso de remédios.
Recentemente vem sendo debatido o uso de uma provável cura para o câncer, a fosfoetanolamina. A substância já foi usada por algumas pessoas que disseram ter sido curadas pela pílula. O grande problema é que, não se tem provas suficientes sobre a eficácia do produto, e para que a substância seja considerada um medicamento, isso é essencial.
Wolmar Alipio Severo Filho, doutor e também coordenador do curso de química da Unisc, diz ter pesquisado bastante a respeito do assunto e contou-nos um pouco do que sabe. “A fosfoetanolamina é uma substância relativamente simples no mundo da química”.
A substância foi sintetizada no Brasil em 1980, pelo professor Gilberto Orivaldo Chierice, da Universidade de São Paulo (USP). Mas a patente dela pertence a um laboratório em Dallas, no estado do Texas, EUA, desde 1970. “Lá eles a utilizam para outras finalidades, não como medicamento. Isso já levanta uma suspeita de que a substância não tenha sido estudada o suficiente para vir a ser um remédio”, relata o coordenador.
“Existem alguns estudos que dizem que a substância responde bem para algumas alterações a nível celular, que tem influência em doenças como o Alzheimer, isquemia, epilepsia, e alguns determinados tipos de tumor”, explica.
Quanto ao fato de algumas pessoas terem acesso a pílula através de ações judiciais, Wolmar Filho diz ser um processo bastante complicado. “O jurídico determinou que o laboratório de São Carlos produzisse a pílula, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em nenhum momento autorizou o uso do medicamento”.
“É importante lembrar que para um medicamento ser aprovado, ele deve passar por vários testes, como o de toxicidade, em animais e depois em humanos. Não adianta a substância te proporcionar uma melhora em determinado momento e mais tarde trazer outro problema, talvez ainda mais grave”, ressalta o doutor.
Ele classifica o assunto como de extrema importância, no qual, o governo e a Anvisa aceleraram o processo de estudo devido a pressão imposta pela sociedade. “O grande problema é a falta de conhecimento que envolve emoção, desespero, e também, interesses econômicos”, analisa. “O custo da pílula é ilusório, podendo ser encontrada pelo preço de 10 centavos”, acrescenta o químico. “Eu gostaria muito que fosse comprovado que a substância é eficaz, afinal, o câncer é uma doença que afeta milhões de pessoas”, finaliza.
Como funciona
Segundo explicações do químico, a substância interage com um determinado tipo de célula, bloqueando o desenvolvimento dela, que é responsável pelas alterações do nível do tumor, o câncer. Mas isto tudo está, ainda, dentro do campo da especulação. “Certamente esta pílula deve ter um efeito colateral, mas eles ainda não estão dimensionados, não tem um estudo sobre isso. Todo mundo está defendendo porque o sonho da humanidade é achar a cura para o câncer a mais de 50 anos”, argumenta.
“Se eu tivesse esta substância em meu laboratório, jamais recomendaria para alguém experimentar, a não ser que um clínico, que tenha todos os estudos bioquímicos em suas mãos se responsabilize por isso”.