Everson Boeck
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O último domingo foi um dia de alerta em Santa Cruz do Sul. O dia 1° de dezembro é o Dia Mundial de Combate à Aids e várias atividades na Praça da Bandeira chamaram a atenção da população sobre a importância de realizar o exame e, também, como prevenir o contágio. Santa Cruz do Sul está em 41º lugar entre os municípios brasileiros com maior incidência de casos notificados de Aids e, no Estado, encontra-se na 17º posição. No município, a campanha é promovida pela Secretaria Municipal de Saúde, através do Centro Municipal de Atendimento à Sorologia e Centro de Testagem e Aconselhamento (Cemas), em parceria com o Curso de Medicina e a Liga Acadêmica de Infectologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e o apoio do Espaço Vida da Unimed.
Justamente por estarem preocupados com estes dados alarmantes, no início da tarde de domingo profissionais do Cemas já estavam na Praça da Bandeira oportunizando a realização de exames anti-HIV e Sífilis. A médica infectologista do Cemas, que também é professora do Curso de Medicina da Unisc e médica do Espaço Vida da Unimed, Cristiane Pimentel Hernandes, relata que durante a tarde foram feitas diversas atividades com o público que esteve no local. “Fizemos brincadeiras educativas com perguntas e respostas sobre DSTs e Aids, demonstrações de como se colocam os preservativos feminino e masculino, distribuição de brindes, preservativos e material informativo”, comenta. Além disso, houve ainda mateada e um momento especial de conscientização com a peça teatral O Pesadelo da Aids, promovida pelo grupo de teatro De Cara e Coragem (que participou de todo o evento), do Oktobertanz, cuja apresentação ocorreu à noite, na Bierhaus.
Cristiane ressalta que, embora esta ação seja pontual, durante todo o ano o Cemas realiza este tipo de atividade. “A prevenção é contínua. Durante todo o ano trabalhamos com escolas; atuamos nas comunidades; dentro da própria Unisc trabalhamos intensamente com a prevenção de todas as doenças infecciosas”, informa.
Mais de mil pacientes
Conforme a Dra. Cristiane, o Cemas já ultrapassou a marca dos mil pacientes infectados pelo vírus que recebem acompanhamento. A estimativa, segundo ela, é que para cada paciente infectado pelo menos mais quatro ou cinco pessoas estejam infectadas e não conhecem seu estado sorológico. O serviço no município tem uma média de dois novos pacientes por semana. “É um dado muito grave e muito triste. Isto significa que as pessoas estão se cuidando menos, mesmo com toda a informação que existe hoje”, lamenta.
Outro dado revelador é que de todos os casos registrados com HIV na região, 70% são de Santa Cruz do Sul. Porém, de acordo com a coordenadora de Aids no município, psicóloga Alzira Vaz da Silva, o que tem preocupado muito quem trabalha com esses pacientes é que grande parte abandona o tratamento, o que incide inevitavelmente no agravamento do quadro de saúde. “Sem acompanhamento permanente, quando as pessoas que deixaram de lado o tratamento voltam a buscar o sistema de saúde, a situação já é crítica e requer atendimento de urgência e internação hospitalar porque elas adoeceram”, alerta.
Everson Boeck
Além dos exames gratuitos, profissionais fizeram entrega de
preservativos e material informativo
Preconceitos
Para a médica, a falta de cuidados e o consequente aumento de pacientes infectados é uma questão cultural. “O Rio Grande do Sul tem números alarmantes. Porto Alegre é a capital que mais tem casos de HIV e Aids no Brasil. O gaúcho tem muitos preconceitos. Ainda hoje, muitas pessoas não fazem o teste por medo de ser visto no centro de testagem por algum conhecido e sair ‘mal falado’. O teste não são um sinônimo de que a pessoa fez algo errado, existem outras formas de contágio além da relação sexual. É um exame como outro qualquer. Fazer o teste de HIV e Aids é estar preocupado com sua saúde”, esclarece Cristiane.
A infectologista destaca que atualmente não existem mais grupos de riscos em função da equiparação de homens e mulheres infectados. “Antigamente existiam diversos grupos de risco. Pelos anos 70 dizia-se que eram os gays, mas isso foi mudando ao longo do tempo. Homens e mulheres, independente de sua orientação sexual, não estão mais divididos porque o número de mulheres portadoras da doença está quase igual ao número de homens. Qualquer relação sexual sem preservativo, hetero ou homossexual, é perigosa. Portanto, o que existe hoje são fatores e comportamentos de risco”, pontua.
Vida normal
A psicóloga Alzira Vaz da Silva explica que hoje a adesão ao tratamento logo no início da contaminação pode garantir uma significativa qualidade de vida ao portador. Com a antecipação na utilização dos medicamentos, pacientes soropositivos podem retardar o adoecimento. A medicação, segundo ela, atua na diminuição do vírus no corpo e na transferência do mesmo para outras células, bem como na estimulação da imunidade.
Dos pacientes registrados com HIV na região, 200 já deixaram o tratamento de lado. Alzira alerta para o que se chama de prevenção positiva em relação aos usuários portadores do vírus. “A pessoa que descobre que tem o vírus, não está necessariamente doente, por isso a importância do acompanhamento, justamente para que esse paciente tenha qualidade de vida e não adoeça deixando espaço para as doenças oportunistas que são as verdadeiras causadoras de óbitos”, disse.
Everson Boeck
Integrantes do grupo de teatro De Cara e Coragem também ajudaram na iniciativa
O TRABALHO DO CEMAS
O Centro Municipal de Atendimento à Sorologia e Centro de Testagem e Aconselhamento (Cemas) é um serviço municipal ligado à Secretaria Municipal de Saúde que existe há mais de 18 anos em Santa Cruz do Sul. O serviço, apesar de ser municipal, é referência para o atendimento de HIV/Aids de várias cidades dos arredores de Santa Cruz do sul, portanto, tem direito à atendimento todos os moradores do município e os portadores de HIV de outras cidades cuja referência é Santa Cruz do Sul.
Serviços prestados:
– Médico Infectologista: atende todas as doenças infecto-contagiosas, incluindo HIV/Aids e DSTs,
– Médico ginecologista,
– Médico clínico geral que ajuda na demanda do serviço,
– Dentista,
– Nutricionista,
– Assistente Social,
– Farmacêutica,
– Enfermagem e Técnicos de Enfermagem
– Psicóloga
Além do atendimento destes profissionais, também há coleta de exames de HIV e sífilis para a população em geral. Para os portadores de HIV, são feitas coletas de exames especiais, aplicação de vacinas, dispensação de medicamentos, e grupos de orientações e adesão. O Cemas funciona na rua Thomaz Flores, 806. O exame é gratuito e não precisa de requisição médica. Basta fazer o agendamento pelo telefone 3715 6368.
RS terá estratégia inédita no combate à aids
O novo balanço divulgado pelo Ministério da Saúde (MS) domingo, 1º de dezembro, mais uma vez coloca o estado em primeiro no ranking dos Estados com maior incidência de Aids no país, posição que ocupa há sete anos. Em 2012, foram 4.458 novas notificações, o que representa 41,4 casos por 100 mil habitantes, taxa que é mais do dobro da nacional (20,2). Esse panorama levou a Secretaria Estadual da Saúde (SES) a firmar um acordo inédito com o MS que trará para o Estado algumas medidas emergenciais para o combate à doença.
A principal é a distribuição de medicamentos antirretrovirais a públicos prioritários de pessoas não portadoras do HIV, mas que apresentam riscos elevados de infecção, como homens que fazem sexo com outros homens, gays, profissionais do sexo, entre outros. A oferta dos medicamentos a esse público traz, além da melhoria da qualidade de vida, uma redução na transmissão do vírus, já que a pessoa em tratamento tem a sua carga viral diminuída, reduzindo a propagação do HIV.
O MS fez com o Rio Grande do Sul um acordo para um estudo inédito sobre uma nova estratégia de tratamento e prevenção. A ideia é introduzir – nos Serviços de Assistência Especializada (SAE) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) – a Profilaxia Pré-Exposição (PREP) e expandir para a atenção básica a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que já é oferecida desde 2010 nos SAE. O estudo terá o prazo de um ano e deve começar no primeiro trimestre de 2014.
A PREP será usada como estratégia de intervenção para a prevenção da transmissão entre populações prioritárias – homens que fazem sexo com outros homens, gays, profissionais do sexo, travestis, transexuais, pessoas que usam drogas, pessoas privadas de liberdade e em situação de rua.
A já existente Profilaxia Pós-Exposição é uma medida que consiste no início do uso de antirretrovirais até 72 horas decorridas de uma provável exposição ao vírus HIV. Atualmente ela é utilizada basicamente um duas situações: em caso de risco de contaminação de profissionais de saúde na atividade laboral (devido a acidentes); e em casos de relações sexuais quando ocorre falha nas medidas de prevenção (a partir de uma avaliação médica).
(Fonte: SES)