Início Saúde Cemas, ONG Desafios e UP se unem na prevenção da Aids

Cemas, ONG Desafios e UP se unem na prevenção da Aids

EVERSON BOECK
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A partir de uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde em dezembro do ano passado, que apresentou o aumento de casos da Aids entre jovens homossexuais e uma campanha de prevenção direcionada a este público lançada pelo governo brasileiro em janeiro, levou órgãos ligados à Saúde, além de ONGs e entidades a criarem campanhas preventivas para estancar e diminuir a disseminação do vírus em toda a sociedade.
Em Santa Cruz do Sul, o Centro Municipal de Atendimento a Sorologia (Cemas), através da parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde e o Ministério da Saúde, vai sair às ruas com o Bloco Prevenção nos dias da Folia. De acordo com a coordenadora do Cemas, Maria Cristina da Rosa Afonso, o objetivo da ação, que acontece todos os anos, é diminuir a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a Aids. O Bloco Prevenção é formado por 16 integrantes entre funcionários do Cemas, da Secretaria Municipal de Saúde e outros voluntários.
Neste ano as atividades do bloco iniciam no dia 17, sexta-feira, às 18h, na Polícia Rodoviária Estadual, momento em que serão distribuídos preservativos e materiais informativos, mas as ações não param por aí. O Bloco da Prevenção também estará presente nas concentrações dos blocos e nos bailes de carnaval nos dias 18 e 19. A folia da conscientização vai acabar no desfile de rua das escolas de samba de Santa Cruz do Sul, em março.

PARCERIA

Também preocupados com aumento de casos de Aids entre jovens homossexuais, a ONG Desafios e a UP, tradicional casa GLS do Rio Grande do Sul situada em Santa Cruz do Sul, fizeram uma parceria com o Cemas e estão levando o Bloco Prevenção para a casa neste Carnaval.
Segundo o proprietário da UP, Ruben Quintana, a parceria entre as entidades e o estabelecimento é importante pela quantidade do público GLS que a empresa recebe. “Este trabalho em parceria com o Cemas já existe há mais tempo na UP, no Carnaval apenas será intensificado. A UP recebe centenas de pessoas de vários locais do Estado e nos dias de folia vai receber muito mais. Acreditamos que será uma ação bastante importante para informarmos e divulgarmos o que está acontecendo”, comenta. Quintana, que também é presidente da Desafios, informa que durante a noite haverá representantes do Cemas, da ONG e da UP distribuindo preservativos e material informativo sobre a campanha de prevenção.
Além disso, há um outro trabalho que é desenvolvido durante todo o ano na UP em parceria com o Cemas: o Projeto Flores da Noite. A Redutora de Danos do Cemas, Márcia Bender, explica que são feitas visitas mensais no local distribuindo preservativos e material de divulgação. “E não é só isso. Também fornecemos todo tipo de informações sobre DSTs, coleta de exames, os quais são gratuitos e podem ser agendados por telefone gratuitamente”, esclarece.
Para a coordenadora do Cemas, Maria Cristina da Rosa Afonso, parcerias como esta são muito importantes. “Somos parceiros da UP há bastante tempo e, mesmo sendo bem recebidos em todos os locais da cidade, julgamos essencial termos mais esta porta aberta para nos aproximarmos do público GLS”, ressalta.
Maria Cristina lembra que embora o aumento da doença entre jovens gays esteja preocupando as autoridades, a maioria dos casos de pacientes com o vírus HIV são heterossexuais. “Cerca de 80% dos pacientes contaminados nos últimos cinco anos são de relacionamentos estáveis e heterossexuais”, garante.

PROJETO FLORES DA NOITE

O Projeto Flores da Noite é realizado pelo Cemas e coordenado pela sua Redutora de Danos, Márcia Bender. São realizadas visitas mensais a casas de prostituição, casas noturnas, feitas abordagens nas ruas e visitas a travestis em suas residências. Durante essas visitas são distribuídos preservativos masculinos e gel lubrificante, dadas orientações sobre prevenção, além de ser feito o agendamento de consultas médicas e exames de rotina.
Segundo Bender, o objetivo do projeto é trabalhar com os profissionais do sexo a prevenção de DST/Aids e Hepatites Virais, diminuindo a disseminação dessas e outras doenças e estimulando o autocuidado. “Também encaminhamos essas pessoas para testagem de exames anti-HIV e outras doenças, para consultas ginecológicas entre outras consultas médicas, fazendo com que busquem o atendimento na rede básica de saúde”, destaca.

O QUE DIZ O MINISTÉRIO DA SAÚDE

A prevalência da Aids no Brasil se mantém estável, mas o aumento dos casos em grupos específicos, como o de jovens homossexuais e de mulheres de 13 a 19 anos, é motivo de preocupação, como mostram os dados do Boletim Epidemiológico Aids/DST 2011, divulgado no final de novembro pelo Ministério da Saúde. Essas populações são o foco da campanha de prevenção da Aids já no início deste ano.
O levantamento mostra que há 630 mil pessoas com o vírus da Aids no país – o que equivale a cerca de 0,6% da população. Entre 2009 e 2010, o número de casos novos notificados teve leve redução, de 18.8/100 mil habitantes para 17,9/100 mil habitantes. Outra boa notícia é a redução da taxa de mortalidade: em 12 anos, a taxa de incidência baixou de 7,6 para 6,3 a cada 100 mil pessoas, uma queda de 17%.
GAYS E GAROTAS – Para alguns grupos específicos, no entanto, a incidência aumentou. Entre jovens homossexuais, passou de 24,3 casos por 100 mil habitantes para 26,9. A prevalência da doença entre os jovens gays de 18 a 24 anos, hoje, é de 4,3%. Em 1990, 25,2% dos jovens de 15 a 24 anos infectados pelo vírus da Aids eram homens que fazem sexo com outros homens (chamados HSH). Em 2010, essa proporção aumentou para 46,4%.
O aumento dos casos em garotas de 13 a 19 anos é outro ponto que preocupa o Ministério da Saúde. Esse grupo foi o único no qual as mulheres ultrapassaram os homens em 2010 (2,9 casos contra 2,5 por 100 mil habitantes).
A tendência do crescimento da doença entre o público jovem é mundial. Relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, mostra que, apenas em 2010, houve mais de 7.000 novas infecções por dia em todo o mundo, dos quais 34% entre jovens de 15 a 24 anos.
HOMENS E MULHERES – A pesquisa mostrou, ainda, que a diferença entre homens e mulheres infectados é cada vez menor. Em 1989, eram seis homens para cada mulher infectada. Em 2010, a razão é de 1,7 homem para cada mulher.
Na faixa etária acima de 50 anos, a taxa de incidência de Aids em mulheres aumentou quase 76% entre 1998 e 2010 (de 5,8 por 100 mil habitantes para 10,2). Nos homens dessa faixa etária, passou de 14,5 casos por 100 mil habitantes para 18,8 no mesmo período.

DIVULGAÇÃO RJ

Casos de Aids entre jovens homossexuais aumentaram em relação a 2010