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Queda nas exportações de tabaco

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de tabaco e o país que mais exporta o produto desde 1993, no entanto, em 2014 sofreu com a competitividade e teve uma queda histórica na exportação. De acordo com uma pesquisa encomendada pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) à PricewaterhouseCoopers (PwC), até novembro, foram 24,5% a menos em dólares comparado ao mesmo período de 2013, quando foram embarcadas 627 mil toneladas para 102 países, totalizando US$ 3,27 bilhões em divisas.
Uma das causas dessa queda é a valorização do Real, no entanto, o mais significativo motivo é o aumento da produção do tabaco em países africanos como Zimbábue, que registrou 50 mil toneladas a mais exportadas em 2014, Tanzânia, Maláui, Moçambique e Zâmbia. Todos eles expandiram a produção, e em sua vantagem têm o custo de produção inferior ao do Brasil.
O presidente do SindiTabaco, Iro Schünke, afirmou que uma queda de 10% a 15% já era esperada desde o início do segundo semestre de 2014, mas que esse resultado surpreendeu a todos. Ele destacou também que questões burocráticas e logísticas, bem como os crescentes custos com mão de obra, energia e insumos contribuíram decisivamente para a retração dos embarques. Com tudo isso, aliado a um “câmbio que não esteve favorável no primeiro semestre – quando as empresas fecham seus negócios –, a competitividade do tabaco brasileiro ficou prejudicada”, falou Schünke.
No entanto, o presidente também se preocupou em tranquilizar as empresas e produtores. “Apesar disso, o Brasil continua sendo o maior exportador mundial do produto e o segundo maior produtor, e é preciso dizer que o ano também teve seu lado positivo: os resultados alcançados durante a 6ª Conferência das Partes (COP6) – muito em função da pressão exercida na Rússia por representantes da cadeia produtiva e políticos das regiões produtoras – bem como o lançamento da Produção Integrada do Tabaco (PI Tabaco), trouxeram novidades importantes para a cadeia produtiva. Iniciamos 2015 com a certeza de que o tabaco continuará sendo parte importante da balança comercial brasileira, assim como na geração de renda e empregos para centenas de municípios”. 

Para os produtores: queda no lucro

De acordo com a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), não foram só as exportações que sofreram quedas, mas a lucratividade dos produtores também. Conforme o presidente, Benício Werner, na safra de 2012/13 os produtores do fumo virginia tiveram em torno de 20% de lucratividade e o produtor de burley atingiu uma margem acima de 30%. Já na última safra os produtores de burley conseguiram um lucro de 17% e os de virginia apenas 5%. “Se nós olharmos a comercialização da safra de 2013/2014, nós não tivemos um ano muito satisfatório em termos de lucratividade para o produtor comparado à safra anterior”, enfatizou Benício.
No entanto, as expectativas para a safra atual são boas. As negociações iniciaram em dezembro, e apesar de apenas a Souza Cruz ter efetivado a compra, a empresa estabeleceu um aumento de 6,4% no preço do tabaco. “Apenas a Souza Cruz realizou compra de tabaco antes do Natal, mas isso não é motivo de preocupação, pois muitos dos agricultores ainda estavam voltados para o trabalho no fumo na própria lavoura”, explicou ele. Ele afirmou ainda que a comercialização deve começar efetivamente em meados de janeiro e acelerar em fevereiro.
Segundo Benício, as expectativas também são boas, porque acredita-se que  todas as empresas seguirão o exemplo da Souza Cruz e oferecerão um percentual de aumento que os agricultores aceitem. “No dia 18 de dezembro todas elas se disseram não em condições de falar em aumento de tabela de preços. Elas ficaram de retornar pelo dia 12 de janeiro, e eu penso que todas elas dificilmente vão ficar abaixo dos 6,4%. Se não essas empresas vão ter dificuldade de comunicarem com seus próprios produtores”, explicou.

Para os safristas: sem influências

Já para os trabalhadores das indústrias do fumo, a queda na exportação não representa risco, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação (Stifa), Sérgio Pacheco. “Eu acho que é um exagero acreditar que vai influenciar alguma mudança” afirmou ele.
Suas justificativas são de que a avaliação foi feita em dólar e que a moeda esteve muito instável no último ano e que a parte da culpa do aumento da produtividade no exterior, é das empresas brasileiras. “Há alguns anos diversas empresas demitiram muitos funcionários sob a alegação de que eles estavam velhos aos 45 anos. Pois são eles que agora trabalham orientando o cultivo do fumo na África”, contou ele.
Pacheco afirma também que não devem mais ocorrer demissões de safristas em função da diminuição das exportações. “O enxugamento que podia ser feito, já aconteceu com o quase fechamento de uma empresa fumageira. Agora não deverá acontecer mais”, afirmou ele. De acordo com informações do sindicato, a expectativa é de que em 2015, cerca de 7 mil trabalhadores devam ser contratados. Mais do que em 2014, quando foram 6,5 mil.