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Classe operária na sessão da Amigos do Cinema

Uma das pérolas do cinema político italiano dos anos 70, ‘A Classe Operária vai ao Paraíso’, será exibido hoje na sessão da Associação Amigos do Cinema, às 20h, na sede do Sindibancários. O apoio fica com o Sindibancários, Escritório Fuerstenau e Distaky Vídeo. O filme reúne três ícones da época o diretor Elio Petri, o ator Gian Maria Volontè e o compositor Ennio Morricone.  

O ator Gian Maria Volontè em cena do filme

Gian Maria Volontè faz o papel de Lulu Massa, um operário de uma grande fábrica de peças de metal em uma cidade industrial do Norte da Itália trabalha muito, e bem, e por isso é benquisto pelos chefes e mal visto pelos colegas mais ativistas, engajados no movimento sindical. Mas não é uma pessoa feliz ou tranquila, é um sujeito atormentado, à beira de um ataque de nervos, ou de um surto psicótico; questiona tudo na vida; é um chato de galocha na relação com a atual mulher, Lídia (Mariangela Melato), uma cabeleireira, e com o enteado, assim como na conflituosa relação com a ex-mulher e o filho. É também daquele tipo comum de pessoa pobre e inculta que encontra em classismos racistas uma forma de se considerar melhor que os outros. 

Numa visita a um ex-colega de fábrica, Militina (Salvo Randone), internado em um hospício, Lulu pergunta a ele como é que uma pessoa percebe que está ficando doida. Todos os dias, na entrada e na saída da fábrica, Lulu e seus colegas de trabalho ouvem as ladainhas de dois grupos opostos que lhes falam com megafones: de um lado, os sindicalistas, defendendo a tese de que a luta deve ser paulatina, lenta, gradual, para que se possam obter conquistas, vantagens, melhorias salariais e de condições de trabalho; de outro lado, estudantes de extrema esquerda que defendem a radicalização total, o enfrentamento aberto, a greve geral. Imagino que a posição dos sindicalistas fosse, na época do filme, 1971, a do PCI que Petri havia abandonado; a dos estudantes era a dos extremistas que depois partiriam para a luta armada, as Brigadas Vermelhas. E aí é que está: não fica muito clara a posição de Petri. Ele não toma partido de nenhum dos dois lados. Mostra-os, simplesmente, sem demonstrar qualquer simpatia ou repúdio a qualquer um deles.

De operário alienado, “não dotado de consciência política” Lulu passará não para o lado dos sindicalistas moderados, mas para o dos estudantes radicais. Essa opção fará com que ele perca tudo o que tem – até mesmo o resto de lucidez. 

O filme é marcante, importante – ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1972, dividida com outro filme do cinema político italiano, O Caso Mattei, de Francesco Rossi.