Alyne Motta – [email protected]
As Jornadas de Paz e Dignidade são corridas tradicionais que acontecem na América como uma forma de honrar o legado ancestral do continente. É uma oração ao Doador da Vida, para que ele faça florescer as sementes de luz nos corações dos seres humanos.
Elas nasceram do anseio das diversas etnias originárias em colocar um contraponto na história da América para as comemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses e espanhóis aqui. Idealizadas por indígenas, partem do despojamento para a unidade em torno de um propósito universal.
Rolf Steinhaus
Pela segunda vez, Jornada pela Paz e Dignidade passa por Santa Cruz do Sul
A primeira Jornada aconteceu em 1992 como uma contrapartida das celebrações dos 500 anos de “descobrimento da América”. Neste ano saíram duas flechas, ou colunas de corredores dos dois extremos do continente. A Confederação do Condor, de Machu Pichu e a Confederação da Águia, do Alaska.
Ambas as flechas percorreram milhares de quilômetros em oração contínua, até se encontrarem na cidade sagrada de Tehotihuacan, no centro do México. Após a primeira Jornada, se acordou a celebração da corrida a cada quatro anos, partindo de pontos diferentes, mas sempre percorrendo vários países das Américas.
Para os nativos, correr é parte vital da vida cerimonial. Os antepassados e anciões ensinaram que, correndo com um propósito sagrado, se fortalece a unidade do ser humano com o universo e a natureza. Esta foi uma forma que os povos encontraram de parar os lamentos por tudo que perderam desde o descobrimento.
Rolf Steinhaus
Os uruguaios: Daniel Roldan, Ramiro de La Poente, Marcelo Andrada, José da Silva, Joan Croz, Hector Torres e Gabriel Miranda
REALIZADORES
Aurelio Diaz Tekpankalli (indígena Purepecha) foi o líder espiritual que amarrou os bastões sagrados da Confederação do Condor e da Águia. Foi ele quem conduziu a cerimônia de encerramento na cidade de Tehotihuacan, e o primeiro presidente das corridas pela Paz e Dignidade.
Alfonzo Perez é o coordenador geral da organização e liderou as Jornadas de Paz e Dignidade desde a rota norte. Francisco Melo se encarregou de dirigir as Jornadas de Paz e Dignidade desde a rota sul. O encontro dos bastões reúne as cores amarelo (Ásia), branco (Europa), preto (África) e vermelho (América).
OBJETIVOS
Em 1992 os corredores honraram todos os detentores do conhecimento. A segunda jornada, em 1996, honrou os jovens e as crianças. No ano de 2000 foi a vez das famílias serem lembradas. Em 2004 as corridas homenageavam todas as formas que dão vida. A 5ª edição, em 2008, buscou valorizar os sítios sagrados da terra.
Este ano acontece a 6ª Jornada pela Paz e Dignidade que, além de defender o meio ambiente, como todas as outras, tem como tema central as fontes de água. No ano de 2008, o uruguaio Marcelo Andrada decidiu ingressar nas jornadas. “Percebi que era um trabalho sério, em prol de um objetivo verdadeiro”, declarou.
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Participantes devem chegar na Guatemala em 26 de novembro
A 6ª jornada, assim como a 3ª, realizada em 2000, passou por Santa Cruz do Sul. “A cada ano fazemos um percurso novo. Mas mais do que isso, a cada lugar que paramos, fazemos preces”, explica Marcelo. Os grupos de corredores são formados por gente simples, que abrem mão do seu dia a dia para participar e ajudar.
O grupo chegou à cidade na madrugada da terça-feira, 29 de maio, e permaneceu um tempo necessário para descanso. Na mesma manhã, próximo do meio-dia, o grupo partiu em direção a Santa Maria. Eles pretendem chegar na Guatemala em 26 de novembro para, mais uma vez, unir os bastões do Condor e da Águia.
A profecia da águia e do condor
Os anciões sábios das comunidades indígenas do continente americano recordam e falam de uma profecia que prevê como as nações americanas chegarão a se juntar como uma só nação. Para eles a América é como um corpo que está em pedaços, mas que voltará a se juntar para ser novamente inteiro.
Diz esta profecia que quando a Águia (que representa os povos da América do Norte) e o Condor (representa os povos da América do Sul) se unirem, o espírito da paz despertará na Terra. Após esperar por milênios, muitos povos nativos acreditam que este momento de união é agora.
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A cada partida, um ritual é realizado, pendido pelos corredores e pelo objetivo
Para isso todos têm que estar juntos, ter uma compreensão completa. Isto implica também a construção coletiva de uma nova maneira de viver para ser ensinada às crianças e que ficará como herança para as gerações futuras. Esta será uma nova época em que as nações nativas poderão novamente tomar seu destino em união.