Alyne Motta
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Sem a presença de um professor, não existiria a maioria das profissões. Embora um pouco dura, a frase é de grande valia, uma vez que é de uma das mais importantes profissões praticadas no mundo, afinal, sem ela, a transmissão de conhecimentos e a correta apreensão destes pelas pessoas seriam praticamente impossíveis.
Vale lembrar que a função do professor não é a de transmitir informações, mas fazer com que o aluno consiga assimilar melhor as características e processos inerentes ao mundo em que vive. Porém, atualmente existe um grande problema com relação ao exercício do professorado é a desvalorização de sua profissão.
Embora seja uma das competências mais admiradas pela sociedade, os profissionais da área sofrem com os baixos salários, as precárias condições de trabalho em alguns casos ou o trabalho excessivo em outros, além de outros fatores, como a indisciplina dos alunos e a superlotação das salas.
Soma-se a esses fatores o peso que, muitas vezes, o professor carrega em educar os estudantes, situação bastante recorrente. Segundo o professor e filósofo Mario Sérgio Cortella, há uma diferença nem sempre muito nítida entre “educar” e “escolarizar”, sendo a primeira uma responsabilidade da família e a segunda a função do professor e da escola.
De acordo com o mestre Rodolfo Alves Pena, no site Brasil Escola, essa realidade reflete-se no baixo interesse dos estudantes em se tornarem professores, pois a minoria dos que prestam vestibular e Enem deseja ingressar em carreiras relacionadas com a licenciatura ou pedagogia. E a situação pode ser comprovada na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
“No cenário atual, temos uma baixa procura por cursos de licenciatura, e essa mudança ameaça as escolas. Essa instabilidade faz com que, sem bons professores, não tenhamos uma educação de qualidade”, analisa o pró-reitor de Graduação da Unisc, professor Elenor Schneider.
Ele comenta que hoje os profissionais vivem um momento difícil, mas gostaria de ver professores felizes, realizados com a sua profissão, cientes da importância do papel que exercem e a sua contribuição na educação. “Que eles vejam que o seu trabalho não é um fardo, mas uma oportunidade de termos um amanhã melhor”, acrescenta Elenor.
Apesar de todas as dificuldades e percalços, a carreira de professor é bastante importante e oferece uma grande oportunidade para que as pessoas não só acumulem saberes, mas que também oportunizem a outras pessoas o desenvolvimento das diferentes formas de conhecimento.
Ser professor está na essência de cada um
Mais de quarenta anos dedicados à arte de ensinar. Assim é a vida do professor Elenor Schneider, que ministra aulas na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Natural de Cruzeiro do Sul, é o quarto filho de doze irmãos e o primeiro a concluir o ensino médio e cursar o ensino superior.
Seu sonho era ser jornalista, mas achava a cidade de Porto Alegre muito distante para estudar. Acabou ficando no meio do caminho, em Santa Cruz do Sul, onde cursaria história e geografia. O acesso à educação superior era bastante escassa e um bate-papo com um professor de português, mudou seu destino.
Ali começou uma profissão que levaria, com muito amor e dedicação, por toda sua vida. “Nem todo mundo deveria ser professor. Tem que estar dentro de si. E eu sou assim. Quando entro na sala de aula esqueço os problemas da vida”. E nesse jeito de dedicar-se à sala de aula que Elenor conquista os alunos.
De acordo com ele, é preciso ter autoridade com afeto, mas sem deixar de ser um líder. “A sala de aula não é uma caixa fechada, por isso é fundamental ter uma preparação contínua, além de saber o que acontece no mundo, para trazer essas mudanças para os alunos, a fim de gerar uma interação com os alunos”, revela.
Durante sua vida profissional, atuou em escolas particulares, estaduais e também na Unisc, onde hoje, além de professor, atua como pró-reitor de Graduação. Incentivador da leitura – seja com alunos ou com os professores -, se sente feliz e realizado quando percebe que todo seu trabalho “valeu a pena”.
Paixão por educar e formar cidadãos
Estar atuando mais de 30 anos na educação é para quem tem paixão. E assim acontece com a professora Maribel Carvalho, do Colégio Mauá. Após atuar em outras áreas, e por gostar muito de crianças, decidiu que seguiria uma profissão que lhe desse desafios diários. A inspiração foi uma professora que teve quando menina.
“Eu me encantava com a forma que essa professora ensinava. Era doce e se dirigia aos alunos com carinho. E eu queria ser assim”, relembra Maribel. Quis o destino que se tornasse professora. E mais ainda que tivesse sua professora inspiração como colega. “Espero que eu seja inspiração para outras crianças, e que elas venham a ser minhas colegas”, afirma.
Dando aula para crianças com idade entre 8, 9 anos, Maribel considera uma bênção e uma responsabilidade muito grande ensinar crianças em formação. “Vivo um novo desafio a cada dia. E isso me motiva e incentiva vir dar aulas todos os dias”, comenta a professora, com um brilho no olhar e um orgulho no peito.
Para a professora, é importante dominar o conteúdo, mas também é fundamental estar em constante atualização seja na forma de ensinar como nas relações humanas. “O mundo mudou, e a escola também acompanhou essa mudança. A educação de hoje é diferente de 30 anos atrás”, avalia Maribel.
Mesmo com tantos desafios e frustrações, existente nas mais diversas profissões, é fascinada pela troca entre aprender e ensinar. “Sou professora 24 horas, realizada com a profissão que escolhi. E ver o crescimento dos meus alunos me realiza ainda mais”, finaliza Maribel que, além do Colégio Mauá, já atuou na rede estadual e municipal.
Renovação a cada nova aula
Há quase quatro anos, Marciele de Castro tem sua rotina profissional dentro da sala de aula. Formada em Ciências Biológicas e com uma pós-graduação em Orientação Escolar, fez concurso público para ser docente em 2012. Passou e desde o início de 2013 atua na Escola Estadual Estado de Goiás.
Hoje, atuando em sala de aula, sente-se feliz em ter feito essa escolha. “Tenho influência dentro de casa. Minha cunhada é professora e, certa vez, vendo ela falar sobre as dores e as delícias da profissão, me encantei. Quando fui prestar vestibular, optei pela licenciatura”, revela Marciele, satisfeita com a escolha.
Sabendo das mudanças que a educação teve, desde seu tempo de estudante até hoje, Marciele busca se adaptar. “Hoje os tipos de família pesam bastante dentro de sala de aula e sempre busco entender cada aluno, ser amiga e próxima deles, por mais difícil que seja”, comenta a professora.
Ter um laço de amizade com os alunos torna a relação mais próxima dentro da sala de aula. “A cada novo período, a cada nova turma, vou aprendendo com meus alunos. E esse contato que tenho com eles é maravilhoso. Sou muito grata por ser professora e por poder ensinar”, declara Marciele.
Para prender atenção dos alunos, utiliza-se de recursos diversos, sem deixar de aplicar a teoria na prática. Segundo a professora, contextualizar com a realidade que cada um vive é fundamental para que o conteúdo seja aprendido em sua essência e não decorado para as provas. “Eles levam para vida, e não para a nota no fim do ano”, finaliza.
Ser um protagonista da mudança
Carlos Gabriel Costa já teve diversas profissões. Aos 14 anos estudou marcenaria no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e, tempo depois, foi operador de áudio em uma rádio do município. Estudante de História – Licenciatura e com avós e tios ligados à educação, se realizou na vida profissional quando se tornou professor.
A escolha em ir para o magistério não causou espanto, e sim incentivo por parte da família. Passou pela rede municipal, estadual e, atualmente, dedica-se integralmente ao Colégio Marista São Luis, onde ministra aulas de Geografia para o Ensino Fundamental 2 (alunos do 6º ao 9º ano) e também Filosofia para o 6º ano.
Em sala de aula, embora seja “autoridade”, não se sente assim. “Não tenho o saber máximo. Busco conhecimento dentro e fora da sala de aula. Além disso, me alio às novas tecnologias, a fim de tornar minhas aulas mais dinâmicas”, comenta Carlos Gabriel, que sempre está disposto a aprender, lembrando Sócrates com um “só sei que nada sei”.
Ter estudado em escola pública foi fundamental para desenvolver suas práticas em aula. “Aqui tenho liberdade para trabalhar todos os assuntos, o que possibilita que meus alunos tenham a teoria aliada a prática, o técnico com o humano. Aqui eles saem sempre da zona de conforto”, explica o professor, que está sempre disposto a escutar seus alunos.
Mas saber lidar com alunos não foi tão fácil. Por ser muito tímido nos tempos de estudante, foi impactante ministrar aulas. “É um desafio diário reter a atenção dos alunos, mas é gratificante. Saber que sou um protagonista na vida dos meus alunos é compensador, assim como ouvir que as aulas valem a pena”, finaliza.