Início Educação Escola Rosário pede apoio na Câmara

Escola Rosário pede apoio na Câmara

Foto Luana Ciecelski

Integrante da Fenei e assessor surdo de deputado federal participaram da reunião na escola, ontem, 4 de maio

LUANA CIECELSKI
[email protected]

Na noite de ontem, 4 de maio, pais, alunos e professores da Escola Estadual Nossa Senhora do Rosário, localizada no bairro Cohab, marcaram presença, manifestaram e pediram o apoio dos vereadores na sessão ordinária da Câmara de Vereadores. O motivo foi uma decisão comunicada pela 6ª Coordenaria Regional de Educação (CRE) à direção da escola na terça-feira passada, 28 de abril. Segundo eles, o corte de gastos do governo estadual resultaria na necessidade de juntar duas turmas especiais de 6º e 7º anos que atendem alunos surdos.
A decisão, de acordo com a direção do Rosário, teria como base o fato de que a escola, conhecida regionalmente por ter professores especializados na língua de sinais, atende atualmente à 56 alunos surdos e para isso disponibiliza de 18 professores especializados. “Segundo a CRE, o Estado acredita que 10 professores seriam suficientes para atender esse número de alunos”, explica a diretora, Glauce Maria Etges.
Glauce esclarece também que para montar as turmas, a escola sempre seguiu o documento “Políticas Educacionais para Surdos do Rio Grande do Sul”, que foi elaborado pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis) em conjunto com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc). “Esse documento afirma que as turmas de surdos dos últimos anos do ensino fundamental, devem ter no mínimo quatro alunos e no máximo 10, e é o que acontece aqui”, explica a diretora.
O que o Estado leva em consieração, no entanto, é que a turma de 6º ano possui quatro alunos e a turma de 7º ano possui seis alunos. Se unidas, as duas turmas ainda teriam o número máximo de alunos permitidos, ou seja, 10, e haveria um corte de gastos, já que menos professores seriam necessários no trabalho especializado e eles não precisariam mais receber a gratificação que os professores de classes especiais recebem. No entanto, após saber dessa possibilidade, a comunidade escolar decidiu que não apoiaria a decisão, afirmando que ela pode prejudicar o ensino dos jovens.
Além disso, Glauce explica que a CRE também está solicitando a diminuição de interpretes no ensino médio. “Nós temos turmas com intérprete de manhã e uma turma com intérprete de noite, que atendem à 12 alunos. Eles querem que a gente tire o intérprete de um dos turnos, no entanto, isso é inviável”. Ela explica que os alunos que estudam à noite, são trabalhadores durante o dia e não poderiam estudar em outro turno. Por outro lado, os alunos do dia, são menores de idade e os pais têm o direito de escolher o turno em que eles devem estudar. “Muitos moram longe e são muito jovens pra voltar pra casa tarde da noite. Eles também teriam que descer e embarcar na Unisc”, comenta ela.

Fenei veio até a escola

Para debater essa questão mais a fundo, na manhã de ontem a escola realizou uma reunião entre professores, alunos e pais. Compareceram na escola e na reunião o Diretor de Políticas de Educação da Feneis, Roger Prestes, que é surdo, e o assessor do deputado federal Carlos Gomes (PRB/RS), Cristian Alexandre Strack, que também é surdo e luta pela causa.
Durante o encontro, o grupo discutiu a legislação existente, estudou as possibilidades e os possíveis diálogos a serem realizados com a CRE e com a Seduc. Na oportunidade, professores das turmas de surdos manifestaram suas opiniões sobre a junção das turmas e sobre a diminuição de interpretes. “A legislação também diz que os alunos precisam de 800 horas de aula, no entanto, se eu tiver que dar aula para uma turma em que metade aprende um conteúdo e metade aprende outro conteúdo, eu só vou conseguir dar 400 horas de aula para cada metade”, comentou a professora e interprete de história das classes de surdos.
Outra professora lembrou que a língua de sinais é tão oficial quanto o português no Brasil. “Somos uma minoria linguística no país, mas temos os mesmos direitos”, comentou. Já a diretora, comentou que a junção de turmas não é uma opção. “Se eles querem diminuir gastos, a gente pode fechar as salas de surdos. Mas então, os alunos terão que se matricular nas escolas mais próximas de suas casas e a Seduc terá que pagar um intérprete para cada aluno em várias escolas diferentes”, comentou ela. Os pais, no entanto, não aprovaram a ideia e relataram as dificuldades enfrentadas por eles e pelos filhos antes de iniciarem os estudos na escola especializada. “Faltam interpretes qualificados. As crianças não aprendem nada nas outras escolas. Elas não querem ir pra aula e os professores despreparados não sabem o que fazer com elas”, contou um pai.
Cristian Strack, defensor da causa dos surdos, por sua vez, lembrou que a educação de qualidade é um direito garantido por lei para todos. “Essa é uma questão cultural e de respeito às crianças surdas”, afirmou.

Reunião com a CRE acontece hoje

Após a reunião com os pais, a direção da escola Rosário permaneceu reunida com o representante da Feneis e com Cristian Strack. Juntos, o grupo estudaria a legislação e elaboraria alguns documentos para apresentar à 6ª CRE em uma reunião que está marcada para as 9 horas de hoje, 5 de maio. A escola pretende estabelecer um diálogo com o Estado, e espera resultados positivos.
O Coordenador Regional de Educação, Luiz Ricardo Pinho de Moura, foi procurado pela redação do Riovale Jornal, no entanto, não foi localizado para manifestar a posição da CRE sobre o assunto. Funcionários do gabinete afirmaram que ele ainda estava se inteirando do assunto e das possibilidades e que apenas se manifestaria após a reunião de hoje com a Escola Rosário.