Assembleia – Os invernos da vida
Eu, particularmente, não gosto do inverno. Saibas que o simples e costumeiro ato de levar o lixo para fora o transformará num cabide ambulante, com direito à botas, luvas e cachecol se você o fizer no inverno. O sol não brilha muito e a chuva, o vento, a aparência cinzenta e nublada são quase constantes nesta estação. Pois bem, gostando ou não, o próximo dia 21 é início do inverno para o hemisfério sul (não, eu não estou sorrindo agora). Assim como o ano e suas estações (primavera, verão, outono e inverno), alguns escritores e estudiosos usam as estações do ano para comparar ou figurar, por exemplo, fases da vida (infância, juventude, maturidade e velhice) e até mesmo fases do casamento e dos negócios. Fato é que, em todas as comparações, o inverno está sempre associado à frieza, melancolia, desânimo, vulnerabilidade, tristeza, entre outras coisas. Se compararmos as fases do nosso corpo e psique, semelhantemente às estações do ano, percebendo-nos como seres tricotômicos que somos (corpo, alma e espírito), então, podemos associar que nosso ser espiritual também passa pelo verão ou pelo inverno, por exemplo. Sendo assim, a chave para sobrevivermos ao clima gélido é o fogo, temos que estar aquecidos. Espiritualmente falando não é diferente. Nosso espírito deve estar perto do amor, da luz, da fonte de calor. Se no corpo agasalhar-se e aproximar-se do calor nos deixa mais confortáveis; nos relacionamentos, manifestar o amor e a compaixão derrete o mais gélido coração, o maior iceberg; da mesma forma, nossa vida espiritual por fim se aquece quando perto estamos da luz (“eu sou a luz do mundo”) e do fogo (Jesus como fogo). Entretanto, é preciso esforço para manter-se aquecido. Não se pode improvisar no inverno. Você precisa ter lenha para manter o fogo acesso. Da mesma forma, existem àqueles que querem fogo, calor para suas vidas, relacionamentos e espírito, mas não fazem esforço algum para mantê-los aquecidos; temem a chegada do frio em suas vidas, em suas famílias, mas não são capazes de cortar uma lenha, colocar um graveto sequer para manter o fogo acesso. É necessário rachar a lenha, ser paciente ao fazer o fogo, ser cuidadoso, ser prudente, ser vigilante. É necessário amar, orar, ler a Bíblia, juntar estas brasas. Não como um costume ou repetição, mas com ardente paixão pelo conhecimento do divino amor e da verdade libertadora em Jesus Cristo. Agora preste a atenção! Se antes mesmo do inverno chegar no próximo dia 21, você já se encontra em uma fase gelada na sua vida; se teu lar é um ambiente onde o calor humano e afetivo não irradia mais e o teu contato com Deus é apenas um fio congelado e sem vida, esquecido no tempo, cercado de tradição e nada mais, Jesus se apresenta como esta luz (João 1.4-9), como fogo (Hebreus 12.29), como o sol que emana calor e poder para nossa vida, alma e espírito. Esteja alerta, pois a frieza espiritual é um assassino sorrateiro que faz as pessoas viverem sem sentido, sem propósito, sem direção, como alguém que caminha, mas sem luz para guiar-se. Mas ele veio para iluminar: “Nele (Jesus) estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam […] Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.” (João 1.4-9). Enfim, apesar dos cachecóis, casacos e toucas que você certamente precisará usar a partir do dia 21/06, eu desejo que você tenha dias e noites de sol radiante, luz intensa e calor, muito calor (se é que você me entende). (Paloma Goulart da Silva)
Todos os sábados, 13h30, pela Rádio Santa Cruz AM 550 – Programa “A Voz da Assembleia de Deus”.
Alimentos: estão sendo arrecadados alimentos para doação às famílias necessitadas do município. Quem puder ajudar basta levar sua doação na Rua Princesa Isabel, 24, Senai. Informações pelo telefone (51) 3711-1718.
Informativo Diocese
20º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas está suspenso: Ao avaliar “a situação atual em que vivemos por conta da pandemia do coronavírus”, a Coordenação do 20º Encontro Diocesano de Sementes Crioulas decidiu suspender a realização do encontro que estava agendado para o dia 20 de agosto, na comunidade Santa Emília de Venâncio Aires. Assim, o próximo Encontro Diocesano de Sementes Crioulas deverá ser realizado, somente, no dia 18 de agosto de 2021. Em substituição ao encontro deste ano, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) Diocesana priorizará a entrega de sementes crioulas aos agricultores que perderam suas sementes com a seca. Também realizará uma teleconferência sobre “Sementes Crioulas e os desafios impostos pela Pandemia”, às 19 horas do dia 20 de agosto. Maiores informações podem ser obtidas com Maurício (51 9 9964-0119) e Oldi (51 9 8571-6135).
Sagrado Coração de Jesus: Na sexta-feira, dia 19 de junho, a Igreja celebra a festa do Sagrado Coração de Jesus. A comemoração acontece desde 1672, sendo que, em 1856, o Papa Pio IX estendeu a festa a toda a Igreja Latina. “A característica própria dessa solenidade é a ação de graças pela riqueza insondável de Cristo e a contemplação reparadora do Coração Transpassado” (CNBB: Igreja em Oração). Desde 1844, a devoção é propagada pelo Apostolado da Oração, que está presente na maioria das paróquias da Diocese de Santa Cruz do Sul. Mensalmente, o Papa Francisco grava uma mensagem com a intenção geral do mês. Em junho, o pedido é que “rezemos para que aqueles que sofrem encontrem caminhos de vida, deixando‐se tocar pelo Coração de Jesus’.
61 anos de criação da Diocese: No dia 20 de junho, comemoramos os 61 anos de criação da Diocese de Santa Cruz do Sul, com a nomeação de Dom Alberto Frederico Etges para ser o primeiro bispo. A Diocese foi instalada no dia 15 de novembro de 1959, sendo que, nestes 61 anos, contou com os bispos Dom Alberto Frederico Etges (1959 a 1986), Dom Aloísio Sinésio Bohn (1986 a 2010), Dom Canísio Klaus (2010 a 2016) e Dom Aloísio Alberto Dilli (desde 28 de agosto de 2016). A Diocese foi criada pelo Papa João 23.
Dia do Migrante: No dia 21 de junho celebramos o Dia Nacional do Migrante. Em preparação ao dia, acontece, tradicionalmente, a Semana do Migrante. Neste ano, a pergunta do Dia do Migrante é: “Onde está teu irmão, tua irmã?” A vice-presidente da Cáritas Brasileira, Cleusa Alves da Silva, diz que “a Semana do Migrante chama a nossa atenção para o aumento do fluxo migratório e das situações de refúgio nos últimos anos. Além disso, a grave crise política e econômica que o país enfrenta, junto com a pandemia, acentua o desemprego, frustra as expectativas de quem busca uma vida mais digna, aumenta a fome, a miséria e a vulnerabilidade da população empobrecida. Entre os que mais sofrem, estão as pessoas em situação de migração. Mesmo sendo em grande quantidade, são pessoas invisíveis para o sistema. Para elas não se efetivam nem políticas públicas, nem direitos”. Em nível mundial, o Dia do Migrante e do Refugiado é celebrado no dia 27 de setembro. O Papa Francisco já publicou a mensagem convidando a “acolher, proteger, promover e integrar os deslocados internos”, que “são forçados, como Jesus Cristo, a fugir”.
CARIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA
Caros diocesanos. Em mensagens anteriores refletimos sobre a Catequese e a Liturgia em tempos de pandemia. Hoje pretendemos refletir convosco sobre outro aspecto, também fundamental, que emerge fortemente dentro do contexto da pandemia: sermos Igreja samaritana pela caridade.
Assim desejamos relacionar Catequese, Liturgia e Caridade, considerando-as como unidade. O Papa Paulo VI, tomando um adágio que nasceu no século V e que foi se desenvolvendo na Igreja: “Lex orandi – Lex credendi” (= A lei da oração é a lei da fé ou A Igreja crê conforme reza), acrescentou uma terceira expressão: “Lux operandi et vivendi” (= …que leva à luz da ação e da vida). Sim, desejamos crer conforme celebramos e isso nos deve levar à luz da ação e da vida. O Papa João Paulo II, ao falar da caridade, assim se expressa: “Se faltar a caridade, tudo será inútil… Nesta página, não menos do que o faz com a vertente da ortodoxia, a Igreja mede a sua fidelidade de Esposa de Cristo” (NMI 42 e 49). E a CNBB confirma este modo de pensar: “Uma comunidade insensível às necessidades dos irmãos e à luta para vencer a injustiça é um contra-testemunho, e celebra indignamente a própria liturgia” (DG 2008-2010, n. 178).
Pelo visto anteriormente, percebemos uma profunda relação entre o que celebramos (lex orandi) e o que cremos (lex credendi) e ambas não podem distanciar-se da vida cristã consequente (lex ou lux agendi ou operandi), sobretudo do testemunho de nossas ações. Ao falarmos em Iniciação à Vida Cristã, em catequese de inspiração catecumenal – que tem caráter progressivo de conhecimento, de aproximação e encontro com o Senhor e de inserção operante na vida da comunidade – é de fundamental importância que entendamos a temática abordada acima, pois ela nos mostra pela tradição da Igreja que não podemos separar liturgia (celebração, oração) daquilo que cremos (doutrina, conhecimento, fé) e estas têm sua necessária expressão operante na vida concreta dos cristãos. Portanto, catequese e liturgia e ação de vida andam necessariamente unidas e interdependentes. Não basta a doutrina isolada; não é suficiente a liturgia em si mesma; e não resolve um solitário voluntarismo de ações sem fundamento cristão. Pois elas interagem, são interdependentes e se completam mutuamente.
As primeiras comunidades cristãs (Cf. At 2, 42-47 e At 4, 32-37) concretizavam a fé pela caridade vivida, colocada acima de tudo (Cf. Gl 5, 6 e 1Cor 13, 1-13). Também nós, diante da situação criada pela pandemia, sentimos necessidade de ações nacionais, diocesanas, paroquiais e comunitárias concretas diante dos irmãos e irmãs em necessidade. Já existem apelos gerais e organizações com propostas, como da CNBB (“É Tempo de Cuidar”) e de outras entidades, civis e religiosas, para ajudas aos que mais precisam. Certamente, nossos municípios também as promovem e somos atentos e sensíveis a isso.
É gratificante ver como, em algumas paróquias e comunidades da diocese, a dimensão da caridade está ganhando força, especialmente durante estes dias da ameaça da Covid-19 e suas consequências. Em outras, possivelmente, não é tão intensiva. Eis uma das perguntas que deve ser feita por todas as lideranças pastorais: – Considerando que desejamos ser Igreja samaritana, o que é possível realizar para atender o povo em suas necessidades, especialmente neste tempo de pandemia? Enquanto pensamos nas possíveis respostas e atitudes, enviamos nossa saudação fraterna e manifestamos nossos sentimentos de profunda comunhão.
Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul
IECLB – TIRAR OU NÃO A TOALHA?
O sábio jovem adulto, ao perceber a chegada de uma vizinha para uma visita inesperada, joga uma toalha de bordado lindo sobre a pia cheia de louças sujas do almoço e jantar do dia anterior. Sua intenção é clara: esconder a louça suja!
A bela toalha pode ser comparada ao discurso de paz e tranquilizador que o senso comum espera dos seus líderes nestes tempos, sejam eles(as) religiosos ou civis. Desde os tempos bíblicos, profetas sofreram no desempenho da tarefa para a qual foram chamados por Deus. A característica da profecia bíblica é denunciar as atitudes que ferem a justiça, o direito e a vida digna do povo, especialmente quando essas são cometidas por lideranças que tem a tarefa de cuidar e proteger, especialmente, da população mais vulnerável. Bem sabemos que ninguém gosta de ser denunciado (a). A louça suja é preciso esconder! Mas também é verdade que grande parte das pessoas não gosta de saber a verdade. Porque se levantar a toalha vai ter serviço, vai dar trabalho, vai ser preciso lavar a louça. Boa parte prefere que a toalha fique e que tudo permaneça, aparentemente, tranquilo.
Profetas e profetizas sofreram e ainda sofrem muito. “Cada vez que precisam gritar e anunciar: Violência! Destruição!” (Jr 20.8), muitos não suportam, adoecem, desistem. São muitas as blasfêmias, as acusações raivosas, a perseguição pessoal e até as ameaças que sofrem quando levantam a toalha. Esta é sua tarefa, sua missão! Denúncia por denúncia é irresponsabilidade. A denúncia profética sempre vem acompanhada do juízo, do anúncio da vontade de Deus para a sua criação. É preciso lembrar aos seres humanos com que finalidade foram criados e qual a sua missão neste mundo. E é no fazer a missão que Deus se coloca ao lado, mesmo tendo que enfrentar as muitas cruzes que surgem no caminho.
Lavar a louça suja, poucos gostam. Mas é preciso, para que haja saúde e paz na casa. Em tempos de muitas informações e de acessos fáceis às mais diferentes “verdades” é necessário muita cautela e discernimento. Há muitos profetas e profetizas em nosso meio, comprometidos (as) com uma sociedade melhor, mais humana, solidária e justa, fazendo a sua tarefa. Cabe a cada um (a) de nós responder: queremos tirar ou não a toalha? Se sim, temos muito trabalho a fazer em conjunto para que haja saúde e paz na casa comum, pois “Com justiça, Deus põe à prova, pois sabe o que está em nossas mentes e nos nossos corações”. Jeremias 20.12.
Pa. Anelise Lengler Abentroth