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2014: uma eleição singular

Muitos dos eleitores brasileiros neste domingo não darão maior importância ao ato de votar, embora seu ato ajude a respaldar a quarta maior democracia do mundo (depois da Índia, EUA e Indonésia), com 141 milhões de eleitores. Influenciados pela atmosfera de desconfiança nos agentes políticos, tratarão o voto como mera obrigação, cumprida a cada dois anos.
Há muitas razões para pensar diferente. A eleição de 2014 é única, singular, irrepetível, como o são todas as eleições. O que decidirmos domingo vai ter consequências importantes.
Vejamos alguns aspectos que são repetitivos. Primeiro, a possibilidade de votar: há 25 anos (desde 1989) votamos regularmente, sem interrupções e com liberdade, o mais longo período ininterrupto da história brasileira. Segundo, as regras eleitorais vêm sendo mantidas, sem que os governantes as alterem em função de interesses próprios: desde 1997, quando foi aprovado o direito à reeleição no Executivo para que Fernando Henrique Cardoso pudesse concorrer ao segundo mandato, em 1998, não houve “mexidas” oportunistas nas regras. Terceiro: a Justiça Eleitoral vem coordenando novamente as eleições de forma clara e transparente, sem desconfiança da parte dos diversos partidos concorrentes. Quarto: a urna eletrônica possibilitará que o voto e a apuração sejam muito rápidos, diferente do que acontece na grande maioria das democracias, inclusive as mais consolidadas, que ainda utilizam papel. Quinto: o número de candidatos e de partidos (32) oferece opções para todos os gostos.
Afora o último, que é discutível, esses aspectos repetitivos são próprios de uma democracia firme, sólida. Nesse caso, viva a repetição!
O que torna singular a eleição de 2014 são as circunstâncias temporais atuais. Trata-se da primeira eleição após as grandes manifestações de rua de junho de 2013. No calor daquelas manifestações gerou-se a expectativa de que na eleição seguinte predominaria um forte sentimento de mudança. Não ficou clara a direção da mudança. Uma hipótese era o fortalecimento de grupos políticos extremistas (de direita ou esquerda) em detrimento de posições moderadas. Outra hipótese era o surgimento de novas lideranças. Uma terceira, a rejeição geral aos atuais partidos. Porém, os indicativos colhidos nas recentes pesquisas de opinião e no contato com os eleitores sugerem que o sentimento de forte mudança deu lugar a um senso de mudanças graduais (incrementais, se diria na ciência política), mais realistas e viáveis.
É possível que o sentimento de mudança constatado em 2013 se manifeste na forma de um maior número de abstenções e de votos nulos e brancos, especialmente para o legislativo. Ou é possível que tal sentimento tenha sido aplacado pelas medidas governamentais já tomadas (em nível federal, estadual e municipal) ou acenadas pelos candidatos. Está em jogo o “capital político”, o prestígio dos candidatos, tanto dos governantes que concorrem à reeleição quanto dos oposicionistas que pretendem um lugar ao sol.
Os indicativos são de um pleito tranquilo, cujas emoções fortes limitar-se-ão à comemoração dos vencedores e à tristeza dos não eleitos. Um ambiente propício para que cada um de nós exerça o voto como direito e como responsabilidade moral.